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Morango do Amor, Labubu e a Psicologia dos Fenômenos Instantâneos


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Nos últimos dias, o Brasil se rendeu ao morango do amor!!! Siiiim e você pode até não saber do que se trata, mas provavelmente notou que o preço da fruta está meio estratosférico ultimamente... Já estamos acostumados aos fenômenos improváveis e o fenômeno da vez é esse doce que parece saído diretamente de uma quermesse e roubado o protagonismo da maçã do amor e daquele outro doce que tem uma uva escondida dentro.


Mas não é só no Brasil que esses fenômenos aparecem, quem acompanha o mercado do luxo tem visto o boom dos Labubus, bonequinhos colecionáveis que invadiram o mercado com carinha de brinquedo, preço de obra de arte e alma de meme cult.


Assim como as filas que acontecem nas docerias aqui do Brasil para comprar o bendito morango do amor, em outras capitais como Berlim, as pessoas se aglomeram para comprar o monstrinho de pelúcia.


De um lado, a releitura da maçã do amor: um morango de verdade, envolto em brigadeiro branco moldado no formato da fruta e mergulhado em caramelo vermelho, vendido por R$20,00. Do outro, um toy art japonês, com olhos grandes, dentes afiados e uma estética meio bicho-preguiça meio alienígena "fofinho" — disputado como item de luxo por celebridades, colecionadores e fashionistas, vendido por até R$8.000,00!!!


Apesar da diferença de preços, os dois fenômenos compartilham um mesmo mecanismo: ativam o nosso sistema de recompensa e o nosso desejo de pertencimento.


O cérebro ama uma novidade (e um docinho também)


Nosso cérebro é movido por recompensas — e mais ainda pela antecipação da recompensa. O morango do amor não viralizou só por ser gostoso. Ele é bonito, nostálgico, fotogênico. Gera desejo antes da primeira mordida. E isso já dispara dopamina — o neurotransmissor do prazer, da motivação e do “quero agora”, "eu preciso experimentar esse doce".


Os Labubus, também acionam a dopamina, mas por outra motivação: a da exclusividade. Eles são raros, caros e geram status nas redes. O que o cérebro entende? “Se pouca gente tem e todo mundo está falando, então isso é valioso.” "Eu quero pertencer a esse grupo seleto também!" E se não tenho 5 ou 8 mil reais para comprar o original, vou ali enganar o meu desejo de exclusividade recorrendo a uma cópia.


Contágio emocional: quando todo mundo está falando, a gente também quer


A psicologia comportamental explica isso com um conceito de reforço social. Quanto mais um comportamento é recompensado (com curtidas, atenção, engajamento), mais ele se repete — e se espalha. Quando milhares de pessoas estão repostando um doce ou exibindo um boneco, nosso cérebro social interpreta: “Isso importa. Melhor eu me inteirar”.


É o efeito manada — não como crítica, mas como constatação evolutiva. Pertencer sempre foi mais importante do que entender. E isso nos leva ao ponto seguinte.


Humor, afeto e escapismo: a leveza como autorregulação


Na era do burnout, da hiperexposição e da exaustão emocional, rir de algo curioso ou se envolver com algo aparentemente banal pode ser um ato de autorregulação emocional.


O morango do amor é doce — literal e simbolicamente. Ele ativa memórias afetivas e oferece um respiro do cotidiano cinza, aquele docinho que alegra o dia. Os Labubus, por sua vez, conecta com o lúdico, o excêntrico, o nonsense — que também pode ser autocuidado. Nem tudo nesse vida precisa ter uma "utilidade".


Do ponto de vista da neurociência, faz todo sentido: em tempos de estresse e sobrecarga, nosso cérebro busca por estímulos simples, familiares e prazerosos como uma forma natural de regular emoções e restaurar o equilíbrio interno. É uma tentativa legítima de compensar o caos com pequenas alegrias — doces, brinquedos, memes ou tudo isso junto.


E por que isso nos atrai tanto?


Porque, no fundo:


  • Nosso cérebro é orientado pela dopamina e ama recompensas rápidas (como doces e compras);


  • Somos profundamente influenciados por reforço social e cultural — gostamos do que o grupo valoriza, quem nunca se deparou com algo numa vitrine e achou feio e esquisito, mas que depois de ver todo mundo usando, comentando, postando, curtindo, foi lá e comprou um igual?


  • A nostalgia reduz o estresse e evoca segurança emocional;


  • E às vezes tudo que a gente precisa é de um alívio leve, simbólico, divertido — mesmo que passageiro.


O morango do amor e os Labubus são modas passageiras, logo surgirão outros fenômenos para preencher a lacuna: o desejo humano de conexão, prazer, pertencimento e significado, mesmo que momentaneamente. Porque no fim das contas, não é sobre doces nem bonecos. É sobre a nossa busca — legítima e humana — por significado, leveza e algum tipo de beleza, mesmo nas coisas mais inusitadas.

 
 
 

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